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Quem não gosta de gifting bom sujeito não é!
O gifting está (e sempre esteve) na boca do povo. Prova disso são os inúmeros provérbios e sentenças usados em todo o mundo que comprovam que “É dando que se recebe”...
26/10/2010
“Quando a esmola é grande o santo desconfia”, “De graça até injeção na testa”; e que “Toma lá, dá cá”. “Quanto mais te dão, mais teus amigos são” (Portugal); “Quem dá e (torna/volta) a tirar, ao inferno vai parar.” (Portugal); “Quem não deve, não teme”; “Achado não é roubado” ou “Dado não é roubado”; “Devemos dar como queremos receber” (Portugal); “Mais que o dado, vale a maneira de dar” (Portugal); “A sorte não dá, empresta” (Suécia); “Se estão dando, pegue. Se vierem buscar, corra” (Rússia); “Um é pouco, dois é bom, três é demais” (Provérbio popular); “Quem dá depressa, dá duas vezes” (Provérbio popular); “Mais vale um pássaro na mão que dois voando” (Provérbio popular); “Os melhores presentes são aqueles que não esperam retribuição” (Noruega); “Antes pouco que nada” (Inglaterra); “Arapucas capturam passarinhos. Presentes capturam garotas” (iídiche); “Mais vale um ‘toma’ que dois ‘te darei’” (França); “Melhor um presente pequeno que uma grande promessa” (Finlândia); “Mais caro é o dado do que o comprado” (Provérbio mineiro); “O presenteador é quem dá valor a um presente” (Auctor prestiosa facit., latim); “Cavalo dado não se olha os dentes” (Virgílio, Eneida, 70 BC-19BC);
Sem contar inúmeras citações que, nas mais diversas culturas, trazem sempre um mesmo sentido, como “Presente na hora certa é um duplo benefício” (Robert Louis Stevenson, 1850-1894); “Informações qualquer um pode obter, porém, a arte de pensar é o presente mais raro da natureza” (Frederico II, imperador da Prússia 1721-1786); “Não há homem tão odioso a ponto de restituir-lhe um presente dado” (Zsa Zsa Gabor); “La decadenza del dono si specchia nella penosa invenzione degli articoli da regalo, che presuppongono già che non si sappia che cosa regalare, perché, in realtà, non si ha nessuna voglia di farlo” (Theodor Adorno); “O clima em que um presente é dado determina a retribuição; o que pesa é a intenção e não o valor do gift” (Publilius Syrus — 100 BC, Moral sayings); “A excelência de um presente está muito mais em sua adequação e pertinência que em seu valor” (William Shakespeare); “Um gift — seja um presente, uma palavra gentil, um trabalho realizado com carinho e dedicação — explica-se por si… e se recebê-lo lhe causa constrangimento é porque sua ‘caixa de agradecimento’ está travada” (Franz Kafka, 1883-1924); “Ricos presentes se tornam baratos quando os presenteadores não são gentis” (Sêneca, 5BC-65AD, Letters to Lucilius, 100 AD); “O único presente é uma porção de você mesmo” (Peter McWilliams); “Cada dia provê seus próprios presentes” (Thomas Kempis, 1380-1471); “Whatever it is, I fear Greeks even when they bring gifts.” (Eurípedes, 484BC-406 BC, Electra, 413 BC); “Não há benefícios nos presentes dos maus homens” (Sophocles, 496BC – 406 BC, Antígona)…
Ora, ora, e o gifting não fica apenas nas palavras. Está na cultura, na mitologia, na religião, na política, na economia, nas artes, na literatura… A nossa história está repleta de casos em que um simples presente marcou época, definiu nações e mudou os rumos da civilização. Pois a troca de presentes faz parte das nossas tradições e registros de diversas épocas demonstram a troca de presentes, mesmo que simbólicos — flores, pedras, galhos, ovos e outros “produtos” da natureza, in natura ou manufaturados em forma de artesanato —, para celebrar e comemorar ciclos da natureza ou conquistas.
Vale para astecas, celtas, germanos e vickings, maias, incas, megálitos, etruscos, hispano-mouriscos, romanos, núbios, gregos, cruzados, egípcios, negros, sumérios…Vale para você! Isso tudo não é achismo! Tem ciência! Para estudar o aspecto da psicologia do consumo vinculado ao Gifting, convido Gisela Castro, psicóloga, mestre e doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, coordenadora do Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo.
MP: Quanto à psicologia, por que as pessoas são receptivas às trocas proporcionadas pelos gifts?
GC: Não há quem não goste de ganhar presente! Quem recebe se sente valorizado por quem oferece. O gift ajuda a tornar a relação comercial menos dura e impessoal, sugerindo o interesse em estabelecer um vínculo mais duradouro com o outro; seja este cliente, fornecedor ou parceiro de negócios. Importa ressaltar que para ser bem recebido o presente tem que ser percebido como presente, e não como isca promocional de valor duvidoso.
MP: E sociologicamente, qual a relevância deste “dar-receber-retribuir”?
GC: Estudos antropológicos com antigas civilizações já demonstraram que estas práticas contribuem de modo importante para consolidar os laços sociais. Não é diferente em nossos dias. Cada grupo social necessita de vínculos que interliguem seus elementos para se constituir como tal. Diferentes instâncias participam na estruturação destes vínculos, como laços de parentesco, traços identitários (faixa etária, gênero, raça, etc), perfis afinitários (torcer para o clube tal, gostar da banda qual, etc), dentre outros. Trocas materiais e simbólicas fazem parte da vida social, colaborando em maior ou menor grau para a consolidação dos vínculos entre os membros de uma mesma comunidade.
MP: O gift pode ser considerado uma enzima mercadológica em um cenário de inúmeras intervenções midiáticas?
GC: Gosto da expressão “enzima mercadológica”. Sem dúvida a dimensão mercadológica tem uma centralidade evidente na nossa sociedade de consumo. Podemos entender a prática do gifting como uma intervenção catalisadora nas relações entre mídia e consumo, que estão na base da cultura contemporânea.
Eu nasci com o Gifting,
Com o gifting me criei,
E do danado do gifting,
Nunca me separei!
Marina Pechlivanis - socia-diretora da Umbigo do Mundo, Mestre em Comunicação e Consumo pela ESPM e integante do GEA (Grupo de Estudos Acadêmicos) da AMPRO. Palestrou no Festival de Cannes/Promo Lions 2008 lançando o conceito “Gifting”, e é coautora do livro “Gifting” (Campus Elsevier/2009).
Fonte: Mundo do Marketing